7.11.06

Capítulo 35: (Daniela)

Fátima olhou-me entrar na cozinha, mas continuou a catar seu feijão, sem perguntas. Sentei-me à sua frente e fiquei olhando para o lado. Minha perna batendo de baixo da mesa andava milhas.
_Você já devia ter dito para ele..._referiu-se ao fato de eu não ter contado a Guimarães sobre meu caso com Ricardo.
_Eu sei! Ele saiu daqui soltando fumaça pelas ventas!
_Ele se sentiu enganado...
_Faça-me o favor, né? Ele me enganou primeiro! Ele enganou o próprio amigo...
_Você não contou por orgulho..._ Fátima comentou com uma voz pausada, arrastou os grãos de feijão da mesa até caírem na bacia de plástico no seu colo._ Na verdade a menina não queria era que ele dissesse que vocês cometeram o mesmo erro e são iguais...
_Que seja! Ele ficou chateado por ter que ficar fingindo ser meu namorado, quando eu podia dizer para o Ricardo que nós terminamos.
_Quem tá sendo feito de idiota aqui é o seu Ricardo...
_Eu não consigo nem dormir pensando nisso. Eu olho para ele e tenho vontade de falar tudo, me ajoelhar e pedir perdão...
_Se a patroa não acordar, você vai guardar esse segredo para sempre?
_Não sei... não sei..._ afoguei minhas mãos no rosto._ Eu não estou conseguindo segurar o peso desse juramento.
Ouvimos um carro sendo ligado. Vi da janela da cozinha que o carro de Ricardo acabava de atravessar o portão de saída.
_Será que ele foi atrás do Guimarães?_perguntei._Ai, Fátima, me ajuda, eu estou enlouquecendo!
_Menina, venha cá._ Fátima me puxou pela mão e me fez sentar à mesa outra vez._ Fique aqui e me espere. Ela foi até o armário e buscou uma caixa de velas, depois saiu para o jardim e voltou com algumas rosas. _ me acompanha..._ ela pediu. Eu a segui movida pela curiosidade. Quê? Ela me ensinaria a fazer um despacho?!
Entramos no quarto de Ricardo, depois no banheiro. Fiquei parada em pé, totalmente em silêncio, não queria quebrar a magia do momento. Ela colocou a banheira para encher e acendou três velas de um lado da banheira e três velas do outro lado, depois colocou a última na cabeceira. Desligou a banheira, tocou a água para sentir a temperatura. Abriu o armário, achou um vidrinho de sais e jogou na água uma porção. Por fim, atirou as pétalas de rosas por cima.
_Você vai entrar e descansar um pouco.
_Fátima, eu não estou precisando de banho! Eu sei que ficou um banho glamuroso, mas eu preciso tomar uma decisão..._ comecei a falar atropeladamente e ela não me deu ouvidos, me pegou pelo ombro e foi guiando até a banheira.
_Eu vou ao quarto pegar uma coisa e você entra na água.
Revirei os olhos, retirei a roupa e fiz o que ela me pediu.
Ela voltou com um incenso, que acendeu em cima do armário. Caminhou até mim e eu ia seguindo-a com os olhos. Pegou meu cabelo e o colocou para fora da banheira.
_Fecha os olhos, menina._ pediu e fez movimentos circulares com os dedos na minha testa. _Respira profundamente... muito profundamente... _ sua voz baixinho começou a me relaxar._... Agora você vai se lembrar de várias cenas do seu passado distante, depois das últimas semanas e vai mergulhar nos seus pensamentos...
Ela saiu e fechou a porta. Eu fiz uma revisão de vida durante as horas que fiquei ali sozinha. E quando Ricardo chegou eu já estava decidida ao que fazer.
Encontrei-o na sala, sentei-me ao seu lado e olhei nos seus olhos:
_Eu preciso te dizer uma coisa..._ a minha voz quase não saia.
_O quê?_ ele ficou esperando que eu continuasse, mas simplesmente eu não conseguia. Olhando-o tão lindo, de blusa azul clara, jeans e descalço, eu tinha vontade de beijá-lo e pedir que esquecesse tudo.
_Eu não sei como começar...
_Fala, o que quer que queira dizer, fala...
_Desculpe..._ me deu vontade de chorar.
_Dani? O que está acontecendo?_ ele segurou meus pulsos e tentou olhar nos meus olhos._Você não gosta de mim, é isso?
_...
_Você decidiu ficar com o Guimarães?
_...
_Dani, fala qualquer coisa, por favor! Eu já estou ficando aflito.
_...Ricardo eu não aguento mais guardar isso dentro de mim.
_Isso o quê? Diz para mim!
_Eu não posso dizer!_ levantei-me, precisava sair de perto daquela pressão psicológica, mas quando virei-me, dei de cara com Fátima.
_Você não vai fugir!_ Ricardo segurou meu braço com força.
_Ricardo, por favor me solta._pedi.
_Não!_ ele agora me segurava com força, queria arrancar de mim a verdade.
Lembrei do rosto de Alice me fazendo jurar que nunca contaria o caso dela com Guimarães.
_Então, eu conto._ Alice decidiu.
_Não!_ implorei.
_Será que você duas podem parar de me enlouquecer?!_ Ricardo gritou no auge da sua fúria._ Eu odeio ser feito de...
_Seu Guimarães tinha um caso com dona Alice._ Fátima cortou-o com a sentença que resumia tudo.
Ele ficou com a boca entreaberta, os movimentos paralisados. Seus olhos me procuraram e se fixaram em mim.
_Me perdoa por não ter dito..._ afastei-me com medo do que ele fosse capaz._ Alice me fez jurar, enquanto estava prestes a entrar em coma, que eu não podia contar nunca...
Ricardo andou até a lareira e ficou de costas para nós. Ali havia vários porta-retratos dele com a esposa.
_Ricardo, fala alguma coisa..._ pedi.

3 comentários:

Anônimo disse...

Conforme minhas previsões (só a Li para me transformar em profeta de romances...rs) o céu já está nublado e os trovões espoucam pela atmosfera carregada... Fiz até um haicai para os próximos capítulos, em homenagem às tempestades, que apesar de violentas e assustadoras são necessárias porque limpam o céu e devolvem a claridade do sol...Bjs

Tempestade

Cúmulos e nimbos
fazem escarcéu.
Desaba o céu.

Anônimo disse...

Coitado do Ricardo!!!

Anônimo disse...

concordo com a Mércia... coitado mesmo!!!!!! e o pior é que ele pode ficar morrendo de raiva da Dani!!!!!! aiai... mas tomara que ele perdoe a Dani e mande o Guimarães se ferrar!!!!!