12.8.06

Capítulo 5: (Ricardo)

Daniela parecia tão certa e segura do que faria, enquanto me contava que pretendia estudar para prestar vestibular para psicologia no final do ano, que eu entrava em conflito com a imagem que via e a aquela que eu construira em minha cabeça, com base nas descrições de Alice.
_ E é isso... Eu quero arrumar um emprego e trabalhar enquanto isso. Fazer qualquer coisa mesmo, para ganhar dinheiro.
_Bom, eu trabalho com um empresário que estava precisando de uma secretária que falasse muito bem inglês...
_ Eu ia adorar!_ Seus olhos se acenderam, vivos e esperançosos._ Você poderia me indicar para ele?
_Falarei com ele!_ garanti e naquele momento me senti feliz por poder trazer tanta alegria a ela.
Ficou um silêncio no ar, mas não era pertubador. Estranho isso. Nem nos conhecêmos direito... Ela continuou olhando a capa do filme. Um vento bom entrou pela porta da sala e fio de cabelo ficou roçando o rosto dela de um lado para o outro. E cada vez que o fio ia e voltava, meus olhos seguiam o movimento. Até que num ataque de agonia, estendi os dedos e pus o fio atrás da orelha. O que fez ela virar-se e fixar em mim uma visão de amedrontamento, que achei que a assustara.
_Vamos almoçar?_ pulou do sofá e me senti um estúpido, será que ela interpretara mal? Mas só foi um leve toque no cabelo!
_Claro._ levantei-me também, mas inseguro, sem olhá-la. _ Que temos hoje, Fatinha?
_Legumes, estrogonofe e saladas._ ela respondeu arrumando os pratos na mesa.
_Hum... Anh... A Alice vem almoçar hoje?
_Não, ela ligou e disse que só chega para o jantar._ ela respondeu e se virou para ir para cozinha._ Ah! Então, faz batata frita. Mas faz muita, frita também um bife bem grande e mal passado, com aquele sangue escorrendo...
Ouvi uma risada atrás de mim.
_Pode ser dois bifes?_ Daniela enfiou as mãos no bolso e encolheu os ombros._ Posso?_ pediu-me.
Fatinha olhando-me da porta esperou meu aval:
_Dois bem grandes, pode levar essas saladas daqui. E traz refrigerante também. Ah! Muito sorvete na sobremesa.
_Claro, doutor.
_Quando gato sai os ratos fazem a festa!_ Daniela riu alto e parecia se divertir como nunca. Não era esse semblante que eu vira ontem à mesa de jantar.
_Desculpe. _ ela controlou-se, até que ficou séria novamente, ficou constrangida por eu não ter rido também, mas era por eu estar absorvido por essas observações que eu não conseguia parar de fazer, por algum motivo, simplesmente dera para analisá-la desde que chegara._ Foi só uma brincadeira... Sei que ela é sua mulher...
_Tudo bem. Eu sempre estou esperando para a próxima festa._ Sentei-me, também me dando ao luxo de ficar com aquela blusa suada, sem ter a obrigação de tomar banho antes, com os cabelos desgrenhados.
_Você conviveu muito tempo com a sua mãe?_ ela sentou-se, com um leve sorriso de quem sabe de algo mais nos lábios._Não..._ olhei fixamente o copo por alguns segundos._... Na verdade, não convivi com ela. Meu pai se separou dela eu tinha 9 anos, depois vivi com ele e os empregados. Ele não se casou de novo.
_Então, você encontrou tudo que queria na minha irmã. Sorte a sua..._ ela suspirou. Aquilo fora uma ironia?_Ãnh?_ franzi a testa.
_Deixa pra lá..._ ela revirou os olhos e jogou a cabeça para trás, apoiando a parte de trás do pescoço no encosto do assento e ficou contemplando o teto.
_Não! Agora diga...
_Não quero estragar o almoço...
_Diz!_ agora eu estava irritado.
_..._ Ela ergueu a cabeça e me olhou fixamente. Estudando o melhor momento para o golpe:_ Você achou a sua mãe._... Isso está parecendo Édipo Rei..._ ri._ Daquela história grega, que casa com a mãe...
_Eu falei que não queria falar..._ Ela voltou a contemplar o nada no teto branco.
_Talvez eu queira me sentir seguro...
_..._ ela riu e passei o papel de ridículo._... Você quer pela primeira vez ser mandado, ter uma figura feminina te dizendo o que comer, o que vestir, como viver. Mas depois de seis meses, o que me diz?
_..._ engoli em seco. Salvo pelo gongo: Fátima chegara com os bifes._... É diferente da vida que eu tinha...
_Se pudesse escolher, gostaria de ter a vida que tinha antes?
_Eu posso escolher!_ lembrei-a.
_Será? Com ela carregando um filho seu? Ela carrega a proibição de você deixá-la...
Foi a minha vez de parar de cortar o bife e encará-la.
_Tudo bem que vocês não se dêem tão bem, mas nós dois...
_Vocês se amam? Digo, você ama ela?_ Alice usou um tom ríspido e naquele segundo acreditei em tudo que Alice dizia, ela só podia ser uma pessoa má, que começado a golpear, não pára, impiedosa.
_Gosto dela... Amor é algo que eu...
_Você não a ama..._ riu.
_O que você entende da minha vida?
_Ok!_ ela ergueu as mãos para o alto em sinal de rendição._ Eu não deveria ter tocado em um assunto que você está tentando correr dele faz um tempo..._ ela pegou o prato e foi para o sofá. Achou o controle na mesa de centro e ligou a Tv, relativamente alta.Me senti horrível sentado sozinho à mesa. Se fosse uma criança eu diria: "Já para cá, volte aqui!"Como ela conseguia me alterar daquela forma, me cortar o apetite? Empurrei o bife para o lado e subi, precisava tomar banho.

2 comentários:

Anônimo disse...

Li, estou adorando a história! Parabéns, menina! Te adoro! Beijos!

Anônimo disse...

Eita! A garota tá atacando ferozmente e é só o segundo dia dentro da casa!!! Poutz! Quem vê assim, acredita que ela realmente quer roubar as coisas da irmã... ou será q... bem, deixa eu ler mais um pouco pra entender tais atitudes...

ah, na parte do "vocês se amam?", você escreveu "Alice usou um tom ríspido" e era pra ser "Daniela usou um tom ríspido". =)