20.11.06

Capítulo 41: (Daniela)

Eu estava com um nervosismo a me consumir na sala de espera. Nem conseguira tomar café da manhã direito. Sou assim, quando algo importante está para acontecer, não sinto nem fome.

Era minha grande chance de conseguir um bom emprego. E lá estava eu à altura da proposta, completamente alinhada: maquiagem, terninho, salto de bico fino, cabelo escovado e os nervos em frangalhos.

Não sei se a oferta do café pela secretária foi por uma gentileza, ou por ter percebido que eu estava batendo demais meu pé no chão. Agradeci com um sorriso, constrangida.

Simplesmente tudo tinha que dar certo para eu conseguir essa vaga para qual Guimarães me indicara. Pelo que me explicou, eu iria fazer quase o mesmo que quando era sua secretária. Só que em vez de ajudar com o inglês, iria justamente auxiliar meu futuro chefe com o português, pois o empresário com o qual eu estava esperando para falar era canadense. Ele ia ficar no Brasil para intermediar os escritórios daqui com as fábricas de papel no Canadá.

O homem me olhou de cima abaixo, quando entrei na sala, anunciada por sua secretária. Seu sorriso deve ter sido um sinal de aprovação mais que de boas vindas. Eu lhe apertei a mão firmemente e me sentei. Ele disse que se chamava Steven e o assunto que se desenrolou a partir dali não me pareceu uma entrevista e sim uma explicação do meu futuro papel. Eu fiquei bem mais tranqüila com isso.

Pelo que eu entendi, eu seria sua sombra, iríamos para todos os lugares juntos. Calculei que isso iria representar um gordo salário e fiquei ainda mais entusiasmada. Na altura do campeonato eu estava topando qualquer coisa, precisava arrumar definitivamente a minha vida. Não queria ficar morando na casa da Fátima, dando-lhe despesa. Em breve, alugaria um apartamento para mim, mesmo que bem pequeno.

Ele me perguntou se poderíamos começar naquele momento e eu respondi com muita motivação que com toda certeza. Steven apertou um botão no telefone e perguntou à secretária se alguém o esperava. Mediante a resposta positiva, pediu que entrasse.

_Você deve ser o Ricardo?_ Steven perguntou assim que a porta se abriu e eu virei-me assustada.

Ricardo ficou nitidamente branco e eu senti um frio na barriga, perdi a fala. Aquilo só podia ser uma pegadinha. Guimarães premeditara que esse encontro poderia ocorrer? Se bem que ele deve ter conhecido o Steven por algum contato da empresa de Ricardo...

_Fale para ele que você será minha tradutora. _ Steven pediu-me e eu tentei recuperar minha sobriedade.

_É..._ respirei fundo._ Prazer, senhor Ricardo._ estendi a mão e ele fez o mesmo e a tocou. Me odiei por isso, mas tenho que confessar, meu coração disparou e eu fiquei nitidamente com as bochechas queimando, contive o sorriso no canto da boca. Ai, como eu podia dar aquela bandeira?! Tudo só por um aperto de mão?! Eu quero morrer._ Eu sou a tradutora do senhor Steven e vou mediar a conversa. Pode se sentar..._ estendi a mão indicando a cadeira.

Ricardo abriu um sorriso lindo e balançou a cabeça levemente para os lados. Eu me constrangi. Quê? Ele estava por acaso debochando de mim?

_Então, senhor Ricardo, eu pedi que verificasse todos os documentos e também fizesse os balanços..._ Steven parou de farar, para que eu pudesse traduzir. Eu usei uma voz mecânica e imparcial, para que eles não dessem muito por conta de que eu ali estava.

_Pode me explicar o que significa isso?_ Ricardo perguntou em português, visto que Steven não entenderia.

Fui obrigada a olhá-lo, contra minha intenção, que era de me fixar apenas em algum ponto da parede e fingir que não existia.

_..._ não sabia o que responder. Imagino que estava se referindo aquele acaso do destino, mas me fiz de desentendida e repeti a frase de Steven, só que em inglês e não em português, balancei a cabeça para o lado, fechei os olhos e respirei fundo. Pedi desculpa, vendo que Steven percebera que algo não ocorria bem._ "Então, senhor Ricardo, o senhor Steven pediu que verificasse todos os documentos e também fizesse os balanços..."_ traduzi em português para Ricardo.

Steven continuou falando e eu traduzindo automaticamente e esse processo se arrastou por uma interminável hora. Na despedida, Ricardo apertou minha mão, como que por educação e saiu. Aquilo me caiu muito mal, bateu uma tristeza. Tudo o que vivemos resultou nessa indiferença?

_Ah! Droga, esqueci de perdir-lhe uma coisa..._ Steven ficou irritado com algo._ Você poderia chamá-lo? Ele não deve ter saído ainda do prédio.

Foi o melhor pedido que eu recebera até agora. Abri a porta e alcancei Ricardo no corredor, à caminho do elevador:

_ Espera!_ pedi e ele se virou para mim, que chegava um pouco ofegante à sua frente. Retirou os óculos escuros, na expectativa que eu fosse falar algo revelador.

Eu tinha muitas coisas a dizer, mas não podia deixar meu coração se manifestar, senão, acabaria lhe falando que eu sentia muita saudade, que ficara muito magoada com a maneira com que me tratou, porém até entendia que estava se sentindo enganado.

Ele estava diferente, o cabelo raspado, o rosto mais magro parecia agora perfeitamente triangular. Enquanto o observava, meu telefone começou a tocar no meu bolso de trás. Atendi:

_Alô?
_Daniela? É o Marcos.
_ Marcos?_ franzi a testa, não tinha "pior" hora para ele me ligar?
_É. Lembra que você deixou uma mensagem no meu celular ontem? Então, eu estou te retornando para...

Ricardo virou-se para ir embora, mas eu segurei-o pela mão.

_Espera..._ pedi e ele olhou para nossas mãos e depois para mim. Voltei minha atenção para o telefone._ Marcos, eu estou agora no trabalho, não posso falar, na hora do almoço te ligo, tudo bem?_ pedi.

_Claro, desculpe._ Marcos desligou e eu guardei o celular no bolso outra vez.

Soltei minha mão da de Ricardo.

_O Steven esqueceu de lhe dizer uma coisa... Você pode me acompanhar?_ pedi.

_Claro._ ele seguiu ao meu lado de volta à sala.

Quando Ricardo foi embora definitivamente me perguntei se haveria possíveis encontros como aqueles. Ficou um vazio muito grande. Eu ainda estava mais ligada a ele do que calculava. Era no afastamento que eu me dava conta da intensidade de tudo o que vivemos. Não era possível que ele só guardasse rancor por mim e não enxergasse que eu estava respeitando o juramento que fizera com minha irmã e que tinha sido ela a traidora.

7 comentários:

Anônimo disse...

Menina, dessa vez voce se superou!!!! to aqui me cocando na cadeira de curiosidade para os próximos capítulos!! beijos!

Anônimo disse...

rs. Tá muito gostosa a história, eu sempre leio depois, agora como leitora rs.rs.
Aii que nervoso, fiquei com um frio na barriga igual a Dani!
Beijos leitora querida!

Anônimo disse...

Li, você é muito boa em tramas... volto a insistir... se você escrevesse uma trama de suspense, nós leitores íamos ter que comprar unhas postiças... rs... E que venha logo o próximo capítulo... bjs

Anônimo disse...

hahaha Eu já escrevi um de romance de suspense que tenho aqui em casa. Ele é bem grande hen. Se chama ... ai não vou contar. Faz o seguinte, depois desse eu vou pensar e posso reescrevê-lo aqui na net, ele já está patenteado mesmo.
Vai ter que comprar unhas postiças, porque eu viajei legal heheh nesse livro de que falo.
Quanto ao próximo capítulo aguarde e confie. Nas férias, então, imagina, eu livre, só estagiando, vou escrever muito. Apesar de agora começar minha pesquisa para fazer aquele livro de que lhe falei. Beijinhos meu leitor amado.

Thais Denker disse...

Caramba!
A Dani além de quebrar a promessa da irmã, ficou sem o homem que ela gosta. Só se deu mal...coitada!
Estou ansiosíssima!!!!!!

Anônimo disse...

Li, esse capítulo foi o melhor!!!!
O pior é q essas situações inusitadas acontecem de verdade...
Beijos!

Anônimo disse...

AHHHHHHHH!!!!!!!!! \o/
Ai ai ai meu coração!!! \o/

(o melhor de ler um livro assim, é que os comentários deixam de ser pensados com cuidado para passar a diéia certa do que se quer dizer e eu apenas posso gritar e dizer "tá lindooooooo!!!!!!", afinal, os personagens é que estão me ensinando algo, e não o oposto - como o da Bela... eu adoro dar conselhos e falar um monte, mas tem horas assim que eu só quero sentir a emoção das circunstâncias!!! li, você proporciona mtas coisas pros seus leitores, gosto mto mto mto dos seus livros mesmo!!! mto mesmo!!! \o/)