19.10.06

Capítulo 28: (Ricardo)

Notei que Fátima estava meio dispersiva, enquanto colocava a mesa do jantar. A gente sente quando a pessoa está adiando para nos dizer algo. Disse-lhe que a conhecia tão bem para saber que estava agoniada.
_Ah! Meu filho, eu não gosto de te preocupar..._ colocou o suco no meu copo._ Você já tem tanta coisa na cabeça, mas tem uma coisa muito séria acontecendo...
_ O quê?_ franzi a testa.
_É com a Dani._ ela ficou parada à minha frente, medindo palavras. Puxei uma cadeira ao meu lado e pedi que sentasse. Quando ela falou o nome de Daniela senti um aperto no peito, um frio na barriga, uma sensação estranha._ Que tem ela?
_Ela infrentou tudo muito bem no início, lembra? Só que agora, não sei se reparou, ela está emagrecendo muito... Vive vomitando, tendo tonteira... Ontem, ela caiu da escada.
_..._ fechei os olhos e suspirei fundo.
_A Dani falou para o senhor que ia largar o emprego de secretária para cuidar da Angélica, só que isso não impede que ela saia de casa, mas já reparou que faz dois meses que ela está infurnada aqui?
_É tanta coisa... que nem me dei conta...
_E ela está com problemas sérios para dormir. Sempre chora muito sozinha no quarto. Mas o que mais me angustia..._ ela mostrou o braço._ olha como fico toda arrepiada só de falar..._ deu uma pausa._ Ela pede para eu ficar vigiando ela dormir e diz: "Não deixa eu morrer, eu não quero acordar morta!".
_Ela está com síndrome do pânico._ conclui.
_Eu não sei o nome disso, mas eu acho que ela está precisando muito da sua ajuda. A Alice não está mais aqui, sabe se lá quando ela vai acordar daquele coma... Só que a Dani ficou aqui, vivinha! Você também vive infurnado nessa casa, parece que a vida de vocês dois parou no tempo.
_E o que quer que eu faça? Saia para beber com os amigos, enquanto Alice está em coma?
_Ricardo, se você afundar também, não terá nenhum dos dois para puxar o outro e quando eu falo dois, me refiro a Daniela, porque essa eu sei que ainda tem chance.
_Eu perdi a fome._ afastei o prato._Onde ela está?
_No quarto. Não comenta nada que eu falei...
Levantei-me e fui direto até onde ela estava. Bati na porta para avisar que estava entrando... A luz estava apagada, mas ouvi os soluços. Acendi a luz e não vi ninguém na cama. Enconstei a porta e caminhei até a janela que dava para a área de serviço.
_Dani?_Abaixei-me diante dela, encolhida no canto, com o braço machucado pela queda.
_Me deixa sozinha, por favor...
_Não posso... Eu estava precisando de você...
Ela olhou-me com os olhos inchados.
_Para quê?_ limpou o rosto molhado com as costas das mãos.
_Queria que traduzisse umas coisas para mim.
_Ricardo, não dá para perceber que eu não estou com cabeça?
_Mas é urgente!
Ela respirou fundo e se levantou:
_Tudo bem. Onde estão?
_No meu quarto._ Levantei também e caminhamos para lá. Na sala, passei por Fátima e pedi para ela fazer um chá para nós e ela entendeu meu recado.
_Então, o que é..._ Dani ficou de pé me encarando, quando encostei a porta.
Eu não pensara em nada rápido, não tinha nenhum papel como desculpa, nenhum documento:
_Queria que..._ cheguei bem perto e descruzei os braços dela, para diminuir a barreira entre nós._ Me traduzisse o que está se passando com você.
_Ah! Então só queria me tirar do quarto?_ ela ameaçou sair, mas a segurei pelo braço e vi que já estava chorando.
_Vem cá..._ abracei-a por um longo tempo. Realmente estava tão magra e fraca.
Fátima apareceu na porta do quarto com o chá. Pedi para ela colocar em cima do criado mudo.
_Então, você foi contar tudo para ele,né?_ Daniela resmungou ainda abraçada a mim.
_Eu só quero o seu bem, menina._ Fátima se redimiu e eu fiz sinal para ela ir e não levar aquilo em consideração.
_Vamos tomar?_ Segurei seu rosto e ela fez que sim com a cabeça.
Tomamos em silêncio. Logo o chá de maracujá com casca de maçã começou a acalmá-la. Fátima sempre fazia para Alice, quando ela estava estressada.
_Eu acho que seria legal você ir a um psicólogo. Vou procurar um amanhã.
_Eu não preciso, não estou maluca.
_Você vai..._ falei firmemente olhando nos seus olhos e pus minha mão em cima da dela._ Eu vou com você.
_Acho que Alice não vai acordar mais..._ Daniela deixou o corpo cair para o lado e ajeitou a cabeça no travesseiro.
_Mas você ainda está aqui! E eu quero que fique bem._ apoiei a cabeça em um das mãos e me deitei ao seu lado._ Não gosto de te ver assim..._ tirei o cabelo do seu rosto._ Você precisa dormir para descansar.
_Eu sinto que eu vou morrer também...
_Não vai, porque você tem que ficar para me ajudar._ levantei-me e puxei o edredom para cobri-la._ Dorme aqui hoje, esse quarto é mais fresco.
_Não, não posso ficar sozinha. Se eu começar a morrer e..._ havia pânico nos seus olhos.
_Eu vou ficar com você, então. Prometo que não vou roncar._brinquei, tentando manter o humor.
Tirei o chinelo e deitei ao seu lado. Ela se sentiu estranha, olhando todos os meus gestos.
_Vamos ver que filme legal está passando?_ peguei o controle e liguei a tv.
Ela ficou olhando para o filme por um tempo, muito dispersiva:
_Por favor, fica aqui, então, tá..._ seus olhos estava pesados de sono.
_Eu estou aqui._ afastei seu cabelo para o lado e beijei seu rosto. Não consegui dormir. Fiquei observando-a ali ao meu lado. Onde estava Guimarães que não ajudava a própria namorada? Ele não a amava, nem tinha o mesmo carinho por Daniela que eu tinha. Como ele pode viajar à negócios e deixá-la assim?
De madrugada, várias vezes, Daniela teve pesadelos e rolou pela cama, suada. Puxei-a para perto e a envolvi com meus braços. Nos cobri com o edredom e desde então ela dormiu tranqüila, aninhada em meu corpo. Aquela noite não fez bem apenas a ela, mas a mim também, dormi pela primeira vez profundamente e acordei com o sol entrando muito dourado no quarto.
Ela abriu os olhos e se deu conta de que eu estava observando-a dormir:
_Ai não..._ ela puxou o lençol e tampou a cabeça._ Eu estou horrível...
_Ah! Está mesmo!_ puxei o lençol e fiz cócegas nela.
_Pára! Pára!!!!_ implorou sentando-se._ Eu disse pára!_ pediu e vi o primeiro sorriso da manhã em seu rosto, os olhos muito inchados ainda tinha o brilho de vida que restava.
_Acordei com uma fome. Vamos tomar café?_ comentei esparramado na cama. Espreguicei-me.
_Eu não devia ter dormido aqui, isso não é certo!
_Ah! É, principalmente depois de tudo que a gente fez a noite toda!
Ela fez um ar sério.
_Estou te zoando, boba!_ fiz mais cócegas e ela caiu na cama._Nossa, como você é fraquinha.
_Pára, Ricardo!_ pediu e eu parei.
O café da manhã já estava caprichado na mesa, como eu pedira para Fátima. Aguardei Daniela no estacionamento, enquanto ela terminava de se arrumar.
_Nem demorei muito, viu?_ ouvi uma voz atrás de mim que me fez parar de conversar com o seu Antônio, o jardineiro.
Virei-me e meu coração deu um descompasso. Ela estava com o rosto iluminado pelo sol. Usava um vestido azul claro:
_Nossa, você está bonita._ pensei alto.
_São os óculos escuros._ brincou se aproximando e entrando na zona de sombra do estacionamento. O perfume doce era delicioso.
_Obrigada..._abriu a porta do carro e entrou.
Eu me senti idiota, com uma sensação de ter sido ridículo. Não sei o que Fátima colocou naquele chá,mas eu acordei com um ânimo, uma energia, uma alegria. Até me condenei por estar feliz, é como se fosse injusto com Alice. Mas não podia negar, eu estava tão bem.

5 comentários:

Anônimo disse...

Fantástico o capítulo, ams será que a Alice não vai acordar mesmo?!

Perfect, my friend!

Anônimo disse...

claro que a Alice vai acordar.. quando comecar ficar tudo bem com os outros, a mala da Alice vai acordar para atrapalhar todo mundo denovo!!!
Mas esse Ricardo é um fofo!!
Adorei o capítulo!

Anônimo disse...

rs. Isso são vocês quem dizem... Quem especula mais aí?
beijos!

Anônimo disse...

Em minha opinião Alice vai acordar... mas não será mais a mesma pessoa,ops, a mesma "mala"... ;-) Aguardem!!! beijos prá vc Li... Tô adorando sua história!!!

Anônimo disse...

hum.. o Ricardo todo fofo com a DAni... será que rola um romance ?????