10.8.06

Capítulo 3: (Ricardo)

Procurar uma meia não deve ser tão difícil assim quando a casa é sua, o quarto é seu e a gaveta onde estavam suas meias pretas era sua. Fui até a sala.
_Alice, onde colocou minhas meias? _ perguntei tomando a revista de moda da sua mão.
_Ah, coloquei na última gaveta, na porta do canto. _ respondeu pegando de volta a revista. _ acordou de mal humor, hen? Passou o dia inteiro assim, eu é que deveria estar estressada com esse barrigão. _ fez uma careta de dor, que logo se transformou em surpresa com algum modelo de vestido que vira na página que acabava de virar.

O meu guarda roupa ficou dividido em 1/8 meu e 7/8 dela. Isso significava que meu espaço se resumia "a gaveta da porta do canto". Isso também no armário do banheiro, na geladeira, até no computador que perdeu espaço de tanta imagem de moda. Já fazia um tempo que não achar minhas meias me irritava. Não era bem as meias. Mas tudo. Eu me sentia intruso na minha própria casa. Sempre fui tão simples. Minha sala era espaçosa com almofadas no chão, um tapete grande, tudo claro, clean... E de repente, tem vasos da Jamaica, quadros futuristas, móveis pertencentes a família real tal e me vejo em uma galeria, menos no meu habitat.

Provavelmente quando o bebê nascer eu ficarei com um avos de alguma fração da casa, ou seja, dividiria com o Frog a casinha de cachorro, na área de serviço. Ah! Já ia me esquecendo, ainda faltava a irmã apocalíptica que estava para chegar. Daqui a pouco teríamos que decidir: ou eu, ou o Frog.

_ A campanhia tocou, você não vai atender? _ Alice olhou por cima da revista, enquanto eu ligava a tv na sala para poder assistir ao DVD que alugara.
Tudo bem que ela não se levantaria com aquela barriga pesada, mas eu sentia um sutil tom de patroa na sua voz, que me dava a impressão de ser seu escravo arrastando correntes.
Meu Deus, isso está beirando a uma crise.
Abri a porta e, da varanda, vi uma mulher parada atrás das grades de ferro. Desci as escadas, caminhei por entre o pequeno caminho de cimento que cortava o jardim e pude vê-la com a luz do poste iluminando seu lado esquerdo.
Seus olhos azuis grandes, brilhantes, protegidos por cílios compridos.
Procurei nela qualquer traço que lembrasse Alice e não encontrei nada. Apenas uma calça jeans azul claro, uma camiseta branca e o cabelo liso, longo, preto, caindo pelos ombros. Onde estava o rabo de demônio, os chifres, o cajado com a ponta de garfo?

_ Eu não sou assaltante não, seu moço. _ ela sorriu com tom de gozação e eu me toquei de que ainda estava parado olhando-a, buscando nela a descrição que Alice havia feito.
_ Desculpe. _ passei a mão na nuca, sem jeito, ri e abri o portão, por onde ela passou e, em seguida, posicionou-se à minha frente. Agora a luz iluminava frontalmente seu rosto._ Ricardo. _ apresentei-me _ Sua irmã já deve ter falado de mim. _ estendi a mão.
_ Muito pouco. _ ela apertou a mão, com a sua bem pequena, de finos dedos, dentro da minha. _ A gente não conversa muito. Ao contrário do que deve ter acontecido com você.
_Ãnh? _ Soltei sua mão e enfiei as minhas dentro do bolso do meu jeans velho e desbotado que, só naquele momento, lembrei que deveria ter retirado, segundo os conselhos de Alice. Ela acha que eu não me visto como um homem sério.
_Ela deve ter falado muito de mim... _ ela sorriu e seus lábios rosados inferiores ganharam uma leve mordidinha.
_Ah! Sim, sempre falou de você. Sempre...
_Nossa! _ ela riu olhando para o chão e depois para mim, fechando um pouco os olhos por causa da luz. _ Então, tenho que tirar as suas impressões de mim.
_Não entendi... _ fingi que não sabia que ela conhecia bem a irmã.
_... _ ela chegou mais perto e fez um ar de segredo. Abaixei meu rosto para aproximar-me e achei aquilo divertido. _ ... ela não te disse que eu sou egoísta, roubo a atenção de todo mundo e sempre tentei tomar o que é dela?
_... Não... que isso?
_Já sei algo sobre você. _ ela me deu um soquinho no meu braço. _ Você não mente bem.
Ri e ela riu junto, seus dentes brancos apareceram.
_Vão ficar ai a noite toda? _ Alice falou com a voz grave da soleira da porta cortando os risos com um golpe invisível.
A moça virou-se para trás e encarou séria sua irmã. Engoliu em seco. Parecia estranhamente não estar feliz pelo reencontro.
_Quer ajuda? _ ofereci-me para carregar as malas. Mas ela estendeu a mão no ar para que eu não o fizesse. _ Eu sou fortinha. _ Agarrou a mochila e depois puxou a mala de rodinhas.

9 comentários:

Anônimo disse...

Um livro num blog... peraí que eu vou me atualizar...

Um enorme abraço, Eliane!

PS.: quando ao comentário que fez lá no Jornal do Blogueiro, realmente, os blogs virou febre no mundo todo! Puts... estamos todos doentes!!!

www.jornaldoblogueiro.blogger.com.br

Anônimo disse...

hum se essa Alice não se cuidar esse homem vai correr... na minha casa é o contrário de tudo!! A maior parte do guarda-roupas é dele heheheh... Acho que sou uma boa esposa... E como será essa vida a três quase quatro? hum, não vejo a hr de descobrir, rs! Beijos querida!

Anônimo disse...

Ual! Adorei a novelinha! Volto amanha para ver o proximo capitulo!!
XX

Anônimo disse...

uauuuuuu!!!!!!! o que será qe vai acontecer amanhã ???? to ansiosa pra saber!!!!!!!!

Anônimo disse...

ai, ai....o q será q vai acontecer?!?!?!?!?!??!?!

Anônimo disse...

mais mais mais!!!

Anônimo disse...

era eu! hahahaha

Anônimo disse...

oiii
aiiiiiiiiii
to adorando =]~

Anônimo disse...

Ihhhhhhhh... rolou um clima! Eu vi! Eu vi! Esses dois não me enganam... sorrisinhos pra lá, "soquinhos" (leia-se "contato") pra cá. Hmpf. Sei... ¬¬

A Alice nem sabe o q tá ela preparou para si mesma. Só quero ver a reação quando descobrir que afastou de si tudo o que dizia amar... ¬¬/