3.10.06

Capítulo 24: (Ricardo)

_Você parece estranha. Aliás, vocês parecem estranhos._ ri e me joguei no sofá. Ajeitei a cabeça em uma almofada.
Daniela ficou me olhando e não resistiu, perguntou porque eu havia dito aquilo.
_Sei lá, você briga com Guirmarães, trata ele bem, daqui a pouco eu volto e ele já foi...
_Podemos não falar disso?_ ela bebeu o resto do vinho da taça e olhou para mesa._Não vai querer comer?
_É._ levantei-me e me arrastei até a cadeira, por pura obrigação.
_Ricardo, eu vou embora daqui.
_Ãnh? Embora, mas para onde?
_Não sei, acho que acabo provocando muitas brigas aqui, posso alugar um canto...
_Por mim não há nenhum problema._ respondi._ Na verdade, você acaba sendo minha maior companhia.
Meu cachorro latiu.
_Você também, garotão!_ afaguei a cabeça dele e dei uns tapinhas para que se deitasse.
_Obrigada. Eu estava pensando em arrumar um lugar...
_Vai tudo ficar bem, as coisas estão se ajeitando, daqui a pouco seremos uma família...
_É interessante como você dá valor a isso: família.
_Dou. Porque quando eu chego de uma batalha cambial, cheia de cotações, bolsas, transações e todo aquele inferno por fazer as empresas renderem..._ ri_... eu quero sentir o calor da casa, ouvir vozes amigas, ligar a Tv e ficar perto de pessoas que me deixam seguros...
_Nossa que bonito, se não te conhecesse, diria que era uma mulher.
_Ah!_ taquei-lhe uma azeitona da salada._ Tá me zoando.
_Eu?_ devolveu a azeitona._ O poeta é você._ riu alto.
_Eu sei que já deve estar cheia de eu dizer isso... E dos outros ficarem repetindo... Mas você é tão diferente...
_Da minha irmã? Tá eu sei._ ela fechou o sorriso e fez um semblante de aborrecimento, por tocar naquele assunto.
_Desculpe, não é por mal que digo._ coloquei minha mão sobre a dela e a segurei._ É só porque ela poderei ter muitas coisas que você tem...
_Tipo quais?_ ela inclinou o rosto para o lado e apoiou a cabeça na outra mão semi fechada.
_Não sei, talvez a alegria, a simplicidade de ver as coisas...
_Nesse caso você queria que ela fosse eu..._ falou baixinho.
Não respondi, continuei a comer e ela não insistiu, gostava disso, de não ter coesão nossas conversas, simplesmente eu podia silenciar.

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