26.8.06

Capítulo 12: (Ricardo)

Eu era um objeto destoante naquela sala de cirurgia. Um armário em um canto, uma porta por onde os outros passavam. Estava petrificado, vendo os médicos trabalharem para salvar Alice e o bebê, que eu ainda nem sabia o sexo. Ela dizia que preferia surpresa.

Imerso naquela atmosfera de éter e de objetos metálicos tintilando, eu tive os mais macábros pensamentos.

As pessoas que narram experiência de quase morte, revelam que se viram do lado de fora do próprio corpo. Eu me sentia assim, perdido entre aquelas paredes brancas, olhando tudo em terceira pessoa, sem nenhum poder de ação. Só me restava manter minha fé de que ela ficaria bem.

Não sei se a situação limite em que eu me achava fora a responsável por aflorar tudo em mim, como um bote de ar que abre no fundo do oceano e rapidamente chega a superfície. Assim subiram todos os meus sentimentos, o que me provocou muita angústia.

Eu não conseguia parar de desejar que ela ficasse bem, só que esse desejo não era de quem a amava e precisava ficar com Alice para sempre. Era um desejo de alguém que a metera naquilo tudo e se sentia responsável por ela estar com a vida em risco. Parece que a colocaram sobre os meus cuidados e eu não soubera protegê-la suficientemente. Só que isso era loucura, porque já era bem grandinha.

Todos aqueles meses, queira eu enxergar isso ou não, fora em torno de contornar aquela problemática: ela estava esperando um filho meu e eu tinha que dar todo o apoio. Só que esse apoio não deveria incluir um casamento às pressas, ela tomar conta da minha casa, da minha vida. Por outro lado, que eu podia fazer? Era quase uma conseqüência natural: se nós dizíamos que nos amávamos e ela estava esperando um filho, por que não seguirmos o figurino?

Minhas mãos suadas e o turbilhão de hipóteses me fez pedir para sair da sala. Eu estava zonzo, não me sentia bem.

Uma enfermeira me acompanhou até a sala de espera, onde encontre Fátima e Daniela. A mulher pediu que uma das duas fosse buscar um café para mim, o que Fatinha, prontamente atendeu.

Enquanto a enfermeira se afastava, Daniela olhou-me, para ver se capturava algo pela minha expressão de desterro.

_E o bebê?
_Eles vão tentar salvar..._ apoiei os cotovelos nos joelhos e afoguei o rosto nas mãos. _Eu só quero que tudo termine bem... logo.
_Vai terminar..._ ela passou a mão no cabelo da minha nuca._ Ela é forte.
_É._ apoiei a cabeça na parede e fiquei olhando o teto._ Ela é mais forte que eu. Aliás, eu sempre quis ter um pouco daquela força... Acho que busquei isso nela. Sua irmã me faz me sentir seguro, ela pensa em tudo, faz tudo sem me perguntar, eu não tenho que ter dúvidas...
_Mas depois de experimentar ter isso, você gostou?

Virei o rosto para o lado e olhei-a em cheio. Ela parecia, com aquela frase, me demonstrar que estava naquela sala de cirurgia comigo, lendo todos meus pensamentos.

_Por que a pergunta?
_Nada._ ela deu um discreto sorriso e aquietou-se.
Horas se passaram, até que o médico chegou, com um semblante de cansaço.
_E aí? Como eles estão?_ levantei-me e temi aquela resposta como nunca.

6 comentários:

Jean Souza disse...

Tudo bom, Eliane?

Parabéns pelo capricho no site, está muito legal!

Até a próxima,

Jean.

Anônimo disse...

É, você diz que são páginas pra gente virar mas, se elas não estiverem escritas, fica difícil, né! hahaha
ó a pressão!

Tô te esperando, Li!

Um beijasso!

Editora disse...

Ops, desculpem, é q a vida da escritora, jornalista, webdesigner tá a mil.

\o/ disse...

gostei do blog! bjs solange

Anônimo disse...

oi Li!!!!!!!!! kd o próximo capitulo ???? o livro ta muito jóia!!!!!! parabéns!!!!!

Anônimo disse...

Liiiiiii, ué cadêee????
Pow Li... =/
hahahaha